Archive for the ‘Cantos e Cantigas’ Category

A Casa

outubro 29, 2007

Abra a mala e deixe as roupas sairem, para tomarem seus lugares no armário.

Limpe delicadamente os novos pertences, antigos para os que daqui se foram.

Olhe com cuidado o novo lar, um dia será velho e mais velho o deixarás.

Corra com ânimo em volta da casa, antes que conheças os vizinhos.

Não vá ao banheiro no primeiro dia, o vaso gosta de devorar desconhecidos.

Tome cuidado com os degraus, alguns são mais curtos do que parecem.

Antes do primeiro jantar, deixe que a casa lhe sirva seu prato especial.

Não olhe no espelho até que ele goste tanto de ti que minta sobre como tu és.

Arrume sempre as cercas dos quadros, para que os cavalos não andem pela sala.

Desligue a tevê dentro da primeira hora ou então ela desligará você.

Leia primeiro o último capítulo dos livros, para não ter surpresas desagradáveis no final.

No primeiro mês não limpe o lixo, seja simpático com os ratos – vizinhos presentes.

Ao escrever, leia em voz alta, as paredes não podem ler mas não são burras como as portas..

No inverno sempre feche as janelas a noite, ou as plantas entram em casa – gostam de calor.

Cuidado com o que diz na cozinha, a fechadura de sua porta perdeu o segredo há tempos.

Não use água sanitária na máquina de lavar, ela tem nariz sensível e o espirro é forte.

Peça licença à porta, dê bom dia à geladeira, há quem goste de respeito.

Nunca durma só, você pode sofrer um ataque da solidão ou virar companhia do tédio.

E, antes de ir embora, feche bem a casa mas não desligue as luzes — o absurdo também gosta de clareza.

A Casa - Siena - Por mim Gustavo BacK

Paz Infantil

outubro 2, 2006

Olhem aquelas crianças
carregando armas
sem qualquer esperança,
A morte lhes chama.

Desconhecem a alegria
de viver em uma terra
onde não há a agonia
nem a dor desta guerra.

Elas continuam lutando.
Todo inimigo alvejado
é um desejo se quebrando,
outro pecado consumado.

A criança quer apenas sorrir,
Contudo ela não é capaz.
Já que nunca a deixarão desistir
luta pelo que jamais terá: paz.

Crianças Soldados no Congo

(Poema antigo, feito durante meu curso técnico quando eu ia lá pelos 16 anos e já me preocupava muito com a situação das crianças em África e Oriente Médio.

Que podemos nós, aqui, fazer por elas? Não temos nós tantos “meninos falcões” perdidos pelos morros de nosso país? Será que o voto que depositamos na urna sob o sigilo da lei e a discrição da cabina nos farão mudar uma nossa realidade tão próxima desta africana?)

Carne

agosto 25, 2006

Inale, aspire, transpire
Odores que são só nossos
Tremores que arrebatam
Desejos ainda insaciados

Abra teu corpo para o meu
Receba essa minha loucura
Que acalenta também as tuas
Neste estado sem pudores

Deixe teus poros, tua mente
Teus secretos recantos exalarem
O desejo de serem consumidos
Em convulsões de carne e espírito

Sinta o sabor dos nossos corpos
Unidos pelo frenético anseio
De ter um suspiro mais intenso
Ser o mais intenso dos suspiros

Obs: publicado no Idéias Mutantes em Março, veja o post neste link.

Negação

julho 1, 2006

Nâo tente acreditar em minhas palavras
Não venha me dizer que é paixão
Da minha boca só saem farsas
Sementes da dor e da aflição

Se hoje sou teu amor
É porque sou pura ilusão
Não compartilho o teu valor
Não sou verdade, honra ou razão

Desconfie do que eu digo
Minha moral não tem valor
Sempre fui um mau amigo
Cheio de vaidade e rancor

Nós não teremos solução
Só conheço dúvida e pavor
Deixe-me com minha solidão
Já não sou nem um sonhador

(Fica aí, mais um canto. Isso sai como um CPM da vida, ou mais uma dessas bandas de Metal Melódico, sei lá! Mas gostei de cantar estes versos com a minhas voz mais grave e com uma velocidade um pouco acima do normal e, é claro, com o pesar que a letra da música exige. Isto é só a letra, consigo cantá-la mas a melodia, o ritmo e essas coisas técnicas que competem a um músico ficam ou para o futuro ou para nunca…)

Velha Banguela

junho 19, 2006

Onde foi ela?
Aquela velha
Já banguela
Como Amélia?

Foi à praça
Fazer graça
Da magrela
E amarela

Da velharada
Acompanhada
Fez a graça
Lá na praça

Riu um tanto
Lá num canto
De um tombo e um buraco
De outro velho um bucado

Lá vem ela, lá da praça
Vem sem dentes e sem graça
Pois cuspiu a dentadura
Enquanto ria com candura.

(Uma outra cantiga… aqui há uma única prentensão: a diversão na ingenuidade, pureza e sorriso – coisa de criança. Não é sempre que escrevo algo "feliz", mas as vezes saí, e olha lá que o resultado me agradou.)

Samba Andarilho

março 30, 2006

Sou filho do tempo
Que me põe nos braços
Dá carinho e alento
Que conduz meus passos
No ritmo, no intento
De ter mais que sonhos
Ou simples pensamentos

Sou um pássaro pequeno
Que fugiu do ninho
Buscando alumbramento
Encontrando-se sozinho
Em seu contentamento
De ser secreto amante
Da vida e do momento

Sou andarilho, eterno aprendiz
O futuro é tão distante
Que eu prefiro ser feliz
O que tenho é o bastante
Dois olhos, boca, nariz
Vou seguindo adiante
Onde faço um amigo, crio raiz

(Fica aí o sambinha, uma brincadeira que precisa ser melhorada. Antes de resgistrá-lo vou fazer algumas alterações e trato de colocá-las aqui. Deixo o pedido ao Leo, tenta musicar isso aí… eu sei cantar, mas meu conhecimento musical é zero.)